CRIANÇAS PROTESTAM PELA PERMANÊNCIA DE BRINQUEDOTECA
Reportagem de Carolina Freitas
Crianças protestam pela permanência de brinquedoteca no Museu da República

O 12 de Outubro das crianças do bairro do Catete, na Zona Sul do Rio, teve um ar de protesto este ano, quando os pequenos uniram suas vozes a cerca de 100 pais e educadores para pedir a permanência da Brinquedoteca Hapi no Museu da República. O espaço, que funciona há 13 anos no coreto do pátio do museu, recebeu da diretoria do órgão uma ordem de desocupação com prazo até dia 28 deste mês. A alegação do diretor Ricardo Vieiralves é de que há irregularidades no contrato de uso do coreto.

A coordenadora da Hapi, Cristina Porto, reuniu pais e crianças na mobilização para compartilhar sua preocupação com o futuro do espaço lúdico: "Preciso informar a eles o que está acontecendo, para que a gente decida juntos a melhor forma de lutar por esse lugar." O resultado foi uma passeata colorida por bandeiras, fantasias e cartazes escritos pelas próprias crianças. O grupo percorreu o pátio até a frente do Museu da República, entoando cantigas infantis e pedindo o não fechamento da brinquedoteca, que hoje atende a 80 sócios, além de receber visitas de escolas, creches e pesquisadores da área de Educação.

Quem mais sentirá falta da Hapi, no entanto, são aqueles que fizeram do passeio à brinquedoteca um hábito, como as amigas Maria Helena Drumond, de 11 anos, desde os 2 freqüentadora do espaço, e Ana Luiza da Silva, 12, que vai ao coreto desde os primeiros meses de vida. A amizade das meninas começou na Hapi e se mantém até hoje em meio a jogos educativos e conversas no pátio do museu. Ana, fantasiada de noiva para a manifestação, explicou o porque de seu o pedido: "Seria muito triste não ter a brinquedoteca. Quando eu soube que ia fechar, não acreditei. Até que peguei uma carta da Hapi explicando tudo, levei para a casa e li para a minha vó em voz alta. Quando entendemos, choramos juntas."

Tão desolada quanto as crianças, a coordenadora da brinquedoteca, que recebeu o ofício informando sobre a desocupação do coreto das mãos de um entregador no dia 29 de setembro, procurou, no início deste mês, o diretor do museu para outros esclarecimentos e ouviu que a melhor alternativa para o impasse seria fazer um processo licitatório para o uso do coreto, período durante o qual as portas da brinquedoteca ficariam fechadas.

Para a educadora Sonia Kramer, professora da PUC-Rio, no entanto, interromper o trabalho da Hapi dificulta as negociações e diminui a possibilidade de reabertura do espaço mais tarde. "A brinquedoteca tem que permanecer aberta até o término da licitação. Reconstruir um projeto como esse é extremamente complicado", diz Sonia. A educadora ressalta ainda, a importância de especificar na licitação a finalidade dos projetos que podem se inscrever: "Precisa ser licitação para brinquedoteca. Não podemos abrir mão deste espaço público e urbano das crianças pequenas, que hoje têm cada vez menos lugares fora de casa para brincar."

O Conselho Tutelar entende como uma violação aos direitos da criança a tentativa de fechar a brinquedoteca e vai articular a questão junto ao poder Judiciário. A conselheira da Zona Sul Priscila de Melo Basílio acompanhou a manifestação e falou sobre a função da Hapi: "Sabemos que eles recebem, além dos sócios, alunos de escolas públicas e de creches comunitárias, então, fechar esse espaço é tirar das crianças o direito de brincar. Essa é uma das poucas brinquedotecas abertas e acessíveis à comunidade na região e mesmo na cidade".

Com o apoio recebido na manifestação, equipe do Hapi vai encaminhar à direção do Museu da República, na próxima semana, um abaixo-assinado e o pedido oficial para que a brinquedoteca possa continuar aberta até a definição dos aspectos legais de utilização do coreto, sem que seja necessário, para isso, tirar os brinquedos das mãos das crianças. j



Reportagem de Carolina Freitas [carolinafreitas@mail.com]

31/10/2005

 

 

 
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